Agradecimento

Obrigada a todas as pessoas que leram, que acompanham o blog e aos que deixaram os seus comentários.
Paz e Luz a todos!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Um Ser Especial em Minha Vida




Quando ela nasceu, seu peso e seu comprimento foram tão pequenos quanto o seu desenvolvimento mais tarde seria. Mas nem por isso, frágil, porque sua história é de força, de luta, de garra e de sofrimento. Sua caminhada, sua jornada neste planeta, acredito ser muito mais de ensinamentos, do que aprendizados, embora, as limitações impostas por seu retardo tenham provocado dificuldades de aprendizado.
Mas o que quero contar aqui não são os problemas conseqüentes de uma lesão cerebral, ocorrida não se sabe ao certo quando, nem onde. O objetivo é desabafar a dor de duas pessoas que foram pegas pelas armadilhas da esquizofrenia. Ela, como a protagonista dessa história, e eu como coadjuvante nesta luta diária e constante.
Seus passos sempre foram lentos e inseguros, precisando sempre da minha mão por perto para ampará-la. E por muitas vezes eu soltei a sua mão pra que ela aprendesse a caminhar sozinha, e com alegria e certo orgulho percebia que nem sempre ela caía. Sua fala, até hoje, ainda é um pouco difícil de compreender. Ontem, porque a lesão motora dificultava a sua expressão. Mas, hoje porque sua linguagem é outra. Seu mundo é outro. Sua visão, sua forma de sentir, agir e reagir estão imersos em uma confusão de sentimentos. Porque sua alma está doente. Sim. A esquizofrenia é uma doença da alma. E como compreender a alma? Como compreender os caminhos de algo que não conhecemos que foge ao nosso limite de racionalidade? E acredito que o grande problema seja este, não é para racionalizar, é para sentir, mas a nossa ínfima capacidade de sensibilidade também isto não permite, tornando assim, tudo muito dificultoso e dolorido.
A dor de uma mãe de um portador de esquizofrenia não está no fato de ter o filho com a doença, mas sim, no fato de nada se poder fazer mediante tanto sofrimento, angústia e dor de um filho.
É a consciência e o gosto amargo do reconhecimento da sua impotência, e o que é pior, da impotência do seu Amor. Porque é preciso muito mais que Amor. É preciso muito mais que tudo. É preciso o olhar-se todos os dias perante o espelho e saber que mais um dia de luta será travada contra as vozes e visões de um mundo irreal que teimam em arrastar o seu filho para um mundo de sombras e medos.
É ter que lutar contra a sua fragilidade de ser humano e não se permitir cair, desmoronar, ou até mesmo chorar. É estar consciente o tempo todo, que você está sozinha nesta luta. Sim! Sozinha. Porque cada qual tem a sua vida, tem os seus compromissos, e só um filho esquizofrênico me fez dar as costas a minha vida e aos meus compromissos.
Eis aí uma das peças dessa engrenagem. Um dos aprendizados a ser reconhecido. Castigo por eu sempre ter estado envolvida muito mais com a minha vida e com os meus compromissos do que com os meus filhos? Acredito que não. Eu estava de outra forma lutando pela sobrevivência de todos.
Mas a vida me pedia para entregar esta luta para outra pessoa, ou ao menos dividi-la com alguém. Entretanto, centralizei o poder em minhas mãos, e me intitulei a única capaz de levar adiante um compromisso assumido um dia por dois. E o que a gente não resolve, a vida devolve. E eu tive que parar. A esquizofrenia de minha filha me fez parar. Me fez perceber que eu precisava estar presente vinte quatro horas, não mais algumas horas. E o que é pior, me fez entender, que isso ainda é muito pouco.
Esse “Ser Especial” em minha vida, tem sido desde o seu nascimento a grande oportunidade para que eu possa compreender o sentido da palavra Maternidade. Ela é uma fonte inesgotável de aprendizado a cada dia. Chego a pensar às vezes, que todos os dias dela foram dedicados ao meu crescimento e ao de todos aqueles que tiveram o privilégio de estar ligado a ela, se assim quiserem ou puderem perceber isso.
Bem vinda minha filha as nossas vidas!

domingo, 21 de dezembro de 2008

Todo problema tem solução!


Minha mãe dizia que todo problema tem solução. Dizia ainda, que no final tudo dá certo, e se por acaso não desse, é porque já estava certo e nós é que queríamos mudar uma situação.
Hoje, aos cinqüenta e três anos, vivendo talvez, o maior problema de minha vida, a esquizofrenia de minha filha; tenho pensado bastante sobre estas sábias palavras.
Sim, a esquizofrenia é um problema para todos que convivem com ela e principalmente para os que são portadores dessa doença. Tem solução? Sim! Embora, ainda, veja bem que eu digo ainda, pode não ter cura, mas com certeza, um ser iluminado trará a cura em algum tempo.
Como mãe, digo que a única solução para este problema é enfrentá-lo. Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a lidar com ela, parafraseando a música “Vivendo e aprendendo a jogar”.
Há dias em que você está mais fortalecida e consegue enfrentar as armadilhas desta doença. Há outros, no entanto, em que a nossa condição humana nos pega pela fragilidade e o esgotamento físico e psicológico. Entretanto, respondo sempre a quem me pergunta sobre o estado de minha filha: “na luta”. É verdade! É uma luta diária contra a tristeza, o isolamento, as vozes que não escutamos, mas eles sim, enfim, é a luta por acreditar que a vida é Divina, seja ela qual e como for, e por isso, não pode, não deve ser perdida.
Sabe, nunca valorizei tanto um sorriso de um filho. E, no entanto, apesar de minhas falhas e limitações, sempre fiz tudo para vê-los felizes, contudo, nunca dei tanto valor ao sorriso de cada um.
Hoje, cada sorriso estampado no rosto de minha filha, é a certeza de que nossa luta deve continuar e que é válida. E ainda, que tudo está certo, nada está errado. Talvez as coisas não tenham acontecido da forma que nós gostaríamos, mas com certeza, aconteceu com as pessoas certas, porque minha filha e eu fomos feitas uma para outra.
Através deste problema, me conscientizei da importância da maternidade em minha jornada terrena. Através da esquizofrenia de minha filha, aprendi a valorizar um sorriso, um estender de mão quando pede a minha como um porto na qual ela quer se ancorar.
Sim, minha mãe estava certa, como estão sempre todas as mães, mas que só com o passar dos anos e o peso da experiência nos ombros é que podemos perceber isso.
A esquizofrenia é um problema e tem solução a partir do momento em que a enfrentamos sem medo, sem peninha de nós mesmos, sem nos acharmos injustiçados ou coisa que o valha. Não excluo a dor, o sofrimento, a angústia, a incerteza e o medo de não ser capaz. Mas ainda assim, se ela existe é para ser enfrentada! E de cadeira lhes digo, que é preciso muito mais que Amor para lidar com esta doença. É preciso muita tolerância, paciência, compreensão, determinação, firmeza, carinho, mas acima de tudo, disposição para lutar todos os dias de sua vida, até mesmo por um simples sorriso.
Tania Lacerda/Rio, 22/12/2008.

Coisas que dizem sobre esquizofrenia:


Ø Considerada a doença mais cara do mundo pela organização mundial de saúde.
Ø 1% da humanidade é esquizofrênica
Ø A ciência não tem muita noção do que seja a doença.
Ø O esquizofrênico, quase que invariavelmente escuta vozes, que no jargão médico chamam-se comandos. Seria tal e qual; ordens do eu interior comandando a vida exterior do doente, com uma diferença: não há qualquer filtro ou raciocínio no que se vai falar ou fazer, faz-se o que é despejado para o mundo real.
Ø Não há cura conhecida para a doença, mas o doente pode ser sociabilizado e mantido quase que linearmente perfeito por toda a vida.
Ø Caracteriza-se pela falta de censura do doente em relação aos pensamentos
Ø A doença é seria e não pode ser desprezada ou mascarada pelas famílias.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Ausência de região do cromossoma 22 é a causa de distúrbios psiquiátricos como esquizofrenia












"Publicado na revista britânica "Nature Genetics", o estudo indica que a ausência dos genes está relacionada com a ansiedade, depressão, hiperactividade, autismo e dificuldade de memória.
Os cientistas sustentam ainda que este distúrbio genético está na origem de um a dois por cento dos casos de esquizofrenia.
O estudo mostra também que cerca de 30 por cento dos indivíduos com esta falha nos genes desenvolvem a doença.
A partir de experiências com ratos de laboratório nos quais foram suprimidos os genes que controlam as mesmas funções da região do cromossoma 22 no homem, os cientistas detectaram nos animais distúrbios de comportamento.
Segundo os cientistas, os genes suprimidos do material genético dos ratos controlam processos bioquímicos do cérebro, por isso a sua ausência origina falhas biológicas que causam doenças mentais."

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Palavras de uma mãe.















Filha querida, me conta como posso combater
O bombardeio de sons e cenas, pensamentos e memórias
Que invadem tua mente nessas horas de loucura?
Me conta como posso te trazer de volta,
A um mundo que nem a mim agrada, mas que é real?
Me conta meu amor, como posso, de que jeito, de que forma
Diminuir a tua dor? Os teus tormentos? A tua angústia?
Esse insano sofrimento de quem vê o que não é
De quem ouve o que só tu escutas
De quem sente o que só tu sentes.
Me perdoa minha filha,
se não entendo teus sinais,
Através de tua fúria ou apatia,
De teu silêncio ou teu berro,
Do teu olhar perdido e triste.
De teu corpo inerte a me pedir ajuda.
Essa doença maldita chegou em nossas vidas
Sem aviso e sem preparo.
Sem a nossa autorização.
Não bateu à porta.
Não pediu licença.
Entrou e se alojou com um sorriso infame
E disse: “Cheguei! Agora é com vocês”.
Sei que estamos aprendendo juntas.
Você, da forma mais sofrida e angustiante possível.
E eu por perceber que nem mesmo o meu AMOR
É capaz de arrancar de mim esse gosto de impotência
Perante ao sofrimento do ser que mais amo na vida....VOCÊ.
(Tânia Lacerda)

Esquizofrenia




Loucura!
Uma visão distorcida da realidade.
Mas que realidade? A minha? A sua? A do mundo?
Sim, ouço vozes, vejo coisas.
Tenho amigos e inimigos imaginários.
Muito mais inimigos do que amigos é verdade.
Vivo sozinha no meio de tantas vozes e pessoas.
Vivo sozinha em um mundo que só a mim pertence,
Pois eu o criei.
Vivo querendo morrer, e, no entanto,
Morro a cada dia em que vivo.
Sofro e faço sofrer.
Amparo-me em mãos que quando em crise desconheço.
Brigo, bato, choro...
Faço coisas que não quero fazer.
Minha luta é interna e profunda.
Vivo atormentada pelo medo de nunca mais voltar,
Entretanto, quase sempre quero ficar onde estou,
Inerte em meus movimentos, emudecida em minha voz,
E olhos arregalados olhando pro nada.
Isso que você diz não existir, que,
Entretanto pra mim é tão real como a minha dor.
Dor por só eu ver, só eu ouvir, só eu sentir.
Quantas vezes te olho querendo dizer "Eu te amo Mãe".
Mas as vozes de minha mente me obrigam a calar.
Calar o que de mais puro tenho em meu ser...
O meu Amor por você.
E então me isolo... Calo-me, e me recolho a esse mundo
De armadilhas e medos.
Mundo de solidão no meio de tantas vozes, tantos....tantos.
Sim, isto é loucura!
Loucura pelo medo de viver!
Loucura pelo medo de morrer!
Loucura por só querer PAZ.....PAZ....
(Tania Lacerda).